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Maringá,21/11/2024

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    A. A. de Assis

    PESCADOR CHICORGO

    Divulgação/Redes Sociais
    PESCADOR CHICORGO

    A. A. de Assis

    O professor Amauri Meller, diretor das Faculdades Maringá, pioneiro ilustre e respeitado na cidade, nas horas vagas sempre curtiu uma boa pescaria. Lá um dia, na beira do rio, entrou a discutir detalhes com um pescador profissional. Ele, um homem da cidade, a deitar erudição sobre peixes no ouvido de um caboclo que já nascera mexendo com anzóis e tarrafas.

         Sei lá eu de que falavam, qualquer coisa referente a tipos de iscas, temperatura da água, estações do ano... O fato é que Amauri tentava provar por a + b que em determinadas horas de determinados dias, e em determinadas circunstâncias, a colheita de peixes costumava ser mais farta. Tentava provar e provava. Por a + b. 

         – Credito no senhor –  disse o homem.  Mas só porque o senhor é um chicorgo.

         Renomado professor de física e de matemática, acostumado a lidar com senos, cossenos e mil complicadas fórmulas, Amauri até entende também bastante de agricultura, pecuária, piscicultura e de outras artes e engenhos. Contudo não imaginava o que pudesse ser chicorgo.

         Ficava chato confessar sua insapiência no assunto. O pescador poderia estar armando um jeito de pisar nalgum ponto fraco da cultura do mestre. Iria depois dizer que certos segredos são reservados aos nascidos na profissão. E o professor da cidade podia entender lá das suas trigonometrias e dos seus pitágoras, mas de chicorgo não sabia nada.

         Amauri desviou a conversa. Quis saber como ia a soja na região... se o pasto estava bom para o gado... se o pessoal do sítio estava contente com os preços dos seus produtos... se ainda havia lavouras de café nas vizinhanças...se isso, se mais aquilo... Mas nada de atinar com o que pudesse vir a ser o tal de chicorgo.

         Pensou em deixar de lado o vexame e humildemente pedir ao caboclo que lhe traduzisse a estranha palavra. Mas... e se o homem se ofendesse? E se fosse coisa tão simples que reduzisse o prestígio do professor?

         Pergunta, não pergunta... melhor matutar um pouco mais.

         Chicorgo? – indagava Amauri às distantes memórias do seu tempo de colégio interno. Talvez fosse algum regionalismo. Algum dialeto do sul ou do norte. O homem coçou a barba e veio com nova pergunta:

         – O senhor, que estudou chicorgo, pode me dizer se é mesmo verdade que as represa que tão fazendo nos rio vai desarranjar os tempo de chuva?

         – Há possibilidade de que sim. A natureza está sendo muito violentada.

        Mas que diabo... será que chicorgo tem algo a ver com meteorologia?

        Não tinha. Depois de muita conversa, o professor afinal matou a charada: “chicorgo” era apenas a maneira como o  simpático parceiro de pesca pronunciava a palavra “psicólogo”. E ele nem para desconfiar...  

     Crônica publicada no Jornal do Povo - Maringá (26/09/2024)



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