A. A. de Assis
FRANCISCO, O POETA
Gosto muito de Francisco, um santo e tanto, o bom Francisco de Assis. Não somente por ser ele santo, e santo forte e alegre e sábio; mas também por ser poeta, e máximo.
Poeta mesmo, de entender e amar integralmente a gente e o mundo e a vida. Poeta da ternura e da partilha. Poeta do amor valente e generoso e da coragem de doar-se. Poeta do não-ter, por lhe bastar o ser. Santo-poeta da total pureza.
Francisco vem há oitocentos anos tentando convencer a humanidade de que a alegria está nas coisas simples. Na festa dos lírios, que não tecem nem bordam, e no entanto se vestem mais belamente do que Salomão. Na traquinice dos pássaros, que não plantam nem ceifam, e no entanto jamais sofreram privações.
Poucos souberam viver tão assumidamente a poesia da fraternidade. Levando paz aos corações tumultuados pela violência. Levando esperança às almas sufocadas pela angústia. Levando luz às mentes perturbadas pelo medo e pela dúvida. Disposto sempre a perdoar antes mesmo de ser perdoado, a amar antes mesmo de ser amado. E ensinando a gente a aceitar a chamada para o céu como aurora da eterna graça.
Francisco foi um descomplicador da vida, virtude própria do poeta intrínseco. Despojou-se de toda coisa inútil, para ser somente um homem bom.
Hoje Francisco seria um dos grandes líderes na luta contra a fome, contra a doença e contra a indigência cultural.
Seria um vigoroso apóstolo da natureza, pedindo aos povos que continuem prosperando, mas sujando menos o ar e as águas; que continuem produzindo alimentos, mas usando com mais prudência os agentes químicos; que continuem construindo o que for necessário para o bem da humanidade, mas sacrificando menos os bosques e as florestas. Seria um incansável protetor dos animais. Mas por certo encontraria tempo e fôlego para ser também o de que tanto gosta: um entusiasmado animador de todos os grupos empenhados em semear e manter viva a poesia na face da Terra.
Francisco, o poeta. O nosso poeta. O santo da bondade, irmão querido de cada um de nós, irmão do sol, da lua e de cada uma das estrelas, irmão das plantas, irmão das aves, irmão dos peixes, irmão de todos os bichos de todas as matas, e das borboletas que brincam de flores nos jardins. Francisco, irmão da natureza inteira, irmão de tudo quanto Deus criou.
A bênção, meu São Francisco. Me ensine a ser poeta um pouquinho assim como você. O mundo precisa muito de uma urgente franciscanização.
Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá (03-10-2024)