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Maringá,21/11/2024

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    A. A. de Assis

    Um padre e um pastor

    Crônica

    Freepik
    Um padre e um pastor Padre e pastor: a missão de ambos era trazer para dentro as ovelhas que estavam fora do rebanho

    Padre José chegou ainda jovem a Grumarim da Serra para assumir a direção da paróquia local. De pronto ficou meio assustado, visto que quase ninguém dera conta de sua presença. Nem nas missas apareciam mais que vinte ou trinta fiéis. Quis saber se era algum protesto pela saída do pároco anterior. Não era. A igrejinha sempre estivera vazia mesmo.

    Dias após padre José encontrou por acaso na rua o pastor Borges, da igreja Batista, única outra comunidade religiosa então existente na pequena cidade. Desabafou com ele. O pastor tentou consolá-lo: “Calma, colega, também eu enfrento esse problema. O povo daqui é bem frio em relação à fé”. Marcaram um almoço para trocar ideias.

    Começou ali uma bela experiência de ecumenismo. Padre e pastor, a partir do dia seguinte, passaram a visitar juntos todas as casas do lugar, procurando saber de cada família as razões pelas quais não frequentavam igrejas. “Falta de motivação” foi a resposta mais ouvida.

    Mãos à obra. Padre José e o pastor Borges reuniram os primeiros voluntários, construíram um salão de festas para uso de batistas e católicos, organizaram quermesses, bailinhos, brinquedos para crianças, lazer para idosos, encenações teatrais, e ofereceram o espaço para tudo o que pudesse juntar pessoas: casamentos, aniversários, campeonatos de truco, reuniões de produtores rurais, de empregados do comércio etc. etc. etc.

    Resultado: em pouco tempo a vida da cidade passou a girar em torno das duas igrejas, que logo precisaram ampliar os seus templos devido ao rápido crescimento do número de frequentadores das missas e cultos.

    Uma população antes apática em relação a práticas religiosas tornou-se de repente modelo de fervor espiritual e solidariedade social. Em grande parte pelo modo como o pastor e o padre conseguiram motivar as famílias para uma convivência fraterna e pacífica. A tal ponto que, quando eventualmente o padre adoecia ou precisava viajar, recomendava aos fiéis que fossem assistir ao culto do pastor, e vice-versa.

    Houve até ocasiões em que o coro da igreja Batista cantou em missa da igreja Católica, e em que o padre foi convidado a fazer a pregação em culto da igreja Batista.

    Os dois líderes se convenceram, e convenceram a população, de que a missão de ambos era trazer para dentro as ovelhas que estavam fora do rebanho. Cada uma das novas ovelhas escolheu o abrigo de sua preferência – umas se tornaram católicas, outras batistas, porém todas movidas pela mesma fé e buscando o mesmo ideal de felicidade.

    Ah, sim... a esta altura você deve estar perguntando se essa história aconteceu de fato. Pode ter acontecido sim, em alguma Grumarim da Serra como tantas outras existentes em lugares tantos. Pode também ser uma parábola moderna. Mas bem que poderia dar certo.    

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    Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá – 14-11-2024

    A. A. DE ASSIS



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