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Maringá,11/12/2024

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    A. A. de Assis

    O passado foi ontem

    Crônica

    Freepik
    O passado foi ontem O passado foi ontem...

    Deu-se há um tempão bem grande o anteontem do mundo – um monte de milhões de anos. Mas o ontem aconteceu há pouquinhas décadas, um século no máximo, quase assim “que nem que eu”, que nasci quando as coisas estavam apenas começando a mudar para o futuro.

    Em 1940 eu menino estudava no Grupo Escolar Barão de Macaúbas, em São Fidélis-RJ. A humanidade vivia então o drama da Segunda Guerra Mundial. No Brasil vigorava a ditadura de Getúlio Vargas. Televisão era ainda um sonho. O rádio já falava e cantava, mas com chiados e um barulhinho chamado “estática”. A música era romântica: valsa, bolero, samba canção. Os pares dançavam com os rostos colados. Telefone, daqueles de manivela, era um luxo só de rico. Geladeira também. O trem era o maria-fumaça. O ônibus era daqueles de focinho com bagageiro no teto.

    Havia em nossa cidadinha somente uma rua calçada, a Rua do Café, onde a moçada fazia o footing nas noites de sábados e domingos. Os rapazes ficavam em pé de um lado e do outro da rua, enquanto as garotas passavam pra lá e pra cá, de braços dados. No mês da festa do padroeiro o footing mudava para a praça em frente à igreja, em meio às barraquinhas e maxambombas.

    O “veículo” mais comum era o cavalo. Umas poucas pessoas tinham charretes; outras, mais raras, tinham bicicletas. Automóveis, só dois, que funcionavam como “carros de aluguel” – o do Orbílio (um pé-de-bode daqueles com capota de lona) e o do Theodoro (um estiloso sedanzinho preto).

    Aí um fato novo se deu quebrando a rotina. Um jovem e arrojado comerciante, Zito Simão, foi ao Rio de Janeiro e comprou um carrão V-8. Por falta de estradas rodáveis para o interior, ele despachou o veículo de trem. No dia da chegada, a estação lotou de gente atraída pela emoção de receber o primeiro automóvel de luxo da pacata urbe. Zito estava lá, de terno branco e gravata borboleta, pronto para pilotar o possante sob os aplausos dos conterrâneos.

    Parece coisa de outroríssimas eras. Mas foi “ontem” sim. Faz só 80 anos.


    ---


    NOTA – Esta coluna entra hoje em férias, com retorno previsto para fevereiro. Gratíssimo pelo carinho. Feliz Natal  e ótimo Ano Novo. Grande abraço.

    Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá – 05-12-2024
    A. A. de Assis  



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