Clóvis Melo, jornalista

* Clóvis Melo, jornalista

Com três semanas à frente da administração de Maringá e tendo os principais cargos da gestão ocupados, o prefeito Silvio Barros começa a enfrentar os desafios do terceiro mandato à frente da prefeitura municipal. Vamos analisar alguns deles e, para isso, dividi o texto em três partes. Aqui vai a primeira:

1) Articulação política

Na gestão Ulisses Maia, essa missão era responsabilidade da Chefia de Gabinete, hoje as notícias dão conta de que é no escritório da Prudente de Morais que as discussões acontecem. Houve retaliação, sob a forma de corte de cargos oferecidos na gestão aos vereadores do Partido Novo, por conta de pedido de liminar para anulação da posse dos eleitos (não concedida pela Justiça). Comenta-se que a decisão teria sido tomada pelo deputado federal Ricardo Barros. Antes, com 15 vereadores, já se tratava de trabalho árduo e que necessita de alguém com jogo de cintura digno de rainha de bateria. Hoje, com 23 vereadores, a articulação política será ainda mais desafiadora. Resta saber se RB, que busca alçar voos mais altos na política, continuará dedicando tempo precioso nessas questões paroquiais. Apesar de ser uma máquina para trabalhar, o dia para ele tem a mesma quantidade de horas do restante dos mortais. Não está claro quem assumiria esse papel na nova administração.

2) Gestão

Claro que a experiência de Sílvio como prefeito por dois mandatos é preciosa. Entretanto, passaram-se 12 anos desde que ele deixou a prefeitura, e muita coisa mudou nesse tempo. A adoção do SEI trouxe uma mudança radical na atividade administrativa (para citar apenas um dos muitos aspectos do trabalho interno da municipalidade que se alteraram nesse tempo). A missão da secretaria de Governo, principalmente com vários políticos instalados em cargos de primeiro e segundo escalões, além de marinheiros de primeira viagem e outro tanto, não será fácil. E administrar vaidades é um dos principais trabalhos na gestão, qualquer que seja.

3) Comunicação

Há 12 anos, o mundo era outro. Hoje, a população cobra serviços e obras não apenas pelo 156 ou diretamente no Paço, mas principalmente por redes sociais. Nesse quesito, a administração anterior tinha um expertise invejável e Ulisses Maia era um apaixonado pelo mundo digital, impondo regras de respostas praticamente imediatas com dados verificados. Manter essa disposição na atual gestão já é um grande desafio, melhorar o que já era muito bom é missão complexa na Secom.

4) Saúde

Além da promessa de duas novas UPAs, SB terá que lidar com as filas para consultas, exames e cirurgias eletivas represadas pela pandemia. Não se trata apenas de colocar recursos à disposição da secretaria de Saúde - a capacidade instalada no município tem, como em todo lugar do planeta, um limite. O combate ao mosquito da dengue será outro problema, por conta das mudanças climáticas que trouxeram regimes de calor e chuva no ano inteiro, com um invernico de semanas. Lembrando que o mosquito não é só "da dengue", espalhando também chicungunya, Zika e febre amarela. E o tipo 3 da dengue (sem registro aqui há quase duas décadas) está retornando, colocando em risco cerca de 100 mil maringaense que não possuem imunidade adquirida contra esse vírus em particular. Engajar a população no combate será mandatório. Grandes desafios para o amigo Nardi.

5) Segurança

SB disse que errou quando afirmou que Maringá era uma cidade segura. Discordo. Acontece que “índices de segurança” são uma coisa, “sensação de insegurança” é outra. Pelos índices, adotados internacionalmente, Maringá é sim uma cidade segura. Mas a sensação de insegurança da população aumenta a cada ano. Uma das alternativas para melhorar essa sensação da população é policiamento ostensivo. Porém, mesmo essa ação não é imune a crimes que provoquem comoção pública. Será interessante ver o atual secretário, vereador e oriundo da área, virar vidraça numa seara tão visada.

* Clóvis Melo é  jornalista, foi editor e editor-chefe de diversos veículos de comunicação importantes, em Curitiba e Maringá. Em Maringá, ocupou várias secretarias municipais, sendo uma delas a Secretaria de Saúde, que comandou por dois anos (2022/2024).