Novo curso ofertado no Câmpus Maringá da UEM tem mercado em alta
Com o objetivo de expandir a formação de profissionais de Serviço Social e atender a uma demanda crescente por esses especialistas, a Universidade Estadual de Maringá (UEM) passou a disponibilizar 20 vagas para o curso de Serviço Social no câmpus sede, em Maringá. Até então, a formação em Serviço Social era oferecida exclusivamente no Câmpus Regional do Vale do Ivaí (CRV), em Ivaiporã, e agora se estende para a sede da UEM, proporcionando novas oportunidades para quem deseja ingressar nessa carreira, que tem um mercado promissor impulsionado pelo aumento das políticas públicas e dos programas sociais no Brasil.
A coordenadora do curso de Serviço Social, professora Edinaura Luza, ressalta que a grade curricular do curso implantado em Maringá é a mesma ofertada em Ivaiporã, onde o mesmo ocorre há 14 anos, assim como o quadro de docentes. “A implantação desse curso no câmpus sede é um marco para a UEM e para a região, pois permitirá a formação de profissionais capacitados para atuar em áreas fundamentais de apoio à população, no acesso a direitos sociais e humanos, nas ampliação das condições de vida e de trabalho. Além disso, será o único curso gratuito de Serviço Social na modalidade presencial em Maringá”.
Segundo Luza, o formato de ensino presencial é defendido pela Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS), pois o trabalho profissional envolve, juntamente ao conhecimento teórico, competências e habilidades nas esferas ético-política e técnico-operativa, as quais são desenvolvidas e aperfeiçoadas no contato direto com diversas experiências articuladas ao ensino. Estas exigem a presencialidade. “Nosso objetivo é a formação de profissionais de excelência para a inserção no município de Maringá e região, especialmente no âmbito dos serviços que viabilizam as políticas sociais, contando com vasto arcabouço teórico e uma amplitude de experiências formativas, garantidas por meio de atividades de extensão e pesquisa, visitas técnicas, eventos, congressos, entre outros”, afirma.
Mercado de trabalho
Nos últimos anos, o mercado de trabalho para assistentes sociais tem se expandido, especialmente com a ampliação de exigências necessárias na gestão e viabilização de políticas públicas, como a obrigatoriedade de assistentes sociais e psicólogos na educação. Segundo a presidente do Conselho Regional de Serviço Social do Paraná (Cress-PR), Olegna Guedes, essa expansão de vagas vem também acompanhada de desafios.
“Pesquisas sobre o perfil de assistentes sociais no Brasil realizada pelo Conselho Federal de Serviço Social, entre 2005 e 2022, a proporção de assistentes sociais trabalhando em instituições públicas caiu de 78% para 60%. Ao mesmo tempo, houve um aumento na responsabilidade municipal, que passou de 40,9% para quase 59,8% , enquanto a participação estadual diminuiu de 24% para 11% e a federal passou de 13% para 5%. Essa mudança sobrecarrega os municípios, que lidam com recursos limitados", avalia Guedes.
Segundo Guedes, a atuação dos assistentes sociais é vital para a defesa de direitos e a construção de políticas públicas. “Em um cenário de crise econômica e aumento da desigualdade, a demanda por profissionais qualificados para enfrentar essas questões é cada vez maior, e os assistentes sociais têm desempenhado um papel essencial tanto em instituições públicas quanto no setor privado.”
No Paraná, a média salarial do assistente social varia entre três a oito salários mínimos. “O dado é de uma pesquisa que o Cress-PR realizou em 2018. Os dados deste levantamento apontam que 21% dos assistentes sociais ganham até dois salários mínimos, 50% entre três a cinco salários mínimos e 10% de seis a oito salários mínimos, e apenas 3% que ganham 12 salários mínimos”, aponta Guedes, lembrando que tramita na Câmara dos Deputados o projeto de lei 1827/2019, que estabelece o piso salarial profissional nacional para assistentes sociais em R$ 5,5 mil para a jornada máxima de 30 horas semanais para toda a categoria, seja quem trabalha na administração pública, iniciativa privada ou terceiro setor.
Dados recentes apontam que cerca de 70% dos assistentes sociais no Brasil atuam no setor público, especialmente nas áreas de saúde e assistência social, enquanto o setor privado, incluindo ONGs e fundações, também registra uma crescente procura por esses profissionais. A profissão oferece um campo amplo, com possibilidades de atuação em escolas, hospitais, empresas, e até mesmo no sistema penitenciário. Com um salário inicial médio de R$ 3 mil a R$ 4,5 mil, a carreira de assistente social é considerada estável e promissora, especialmente para aqueles que se especializam em áreas específicas, como mediação de conflitos, gestão de políticas sociais e direitos humanos.
De agricultora a assistente social, Huama Máximo, de 52 anos, viu sua vida se transformar com a graduação em Serviço Social pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), no câmpus de Ivaiporã. A decisão de cursar essa carreira nasceu em 2010, quando, ao ser atendida por uma assistente social no INSS de Ivaiporã, reconheceu a importância do acesso à informação e dos direitos sociais. Em 2014, aos 42 anos, iniciou o curso no Câmpus Regional Vale do Ivaí. Durante o curso, ela conseguiu conciliar o trabalho como agricultora em regime de economia familiar.
Huama afirma que adentrou um universo fascinante e repleto de novos conhecimentos. “O curso de Serviço Social transformou a minha história de vida, os meus sonhos e pensamentos de sujeição em relação a minha realidade social, os quais foram reavaliados de modo crítico e, após reflexão consegui romper com o pensamento de subordinação e de passividade, e passei a me ver e me tornar ator de minha história e, assim, novos sonhos surgiram”, resume Huama.
Ao longo da graduação, Huama se envolveu em projetos de pesquisa e iniciação científica, experiências que considera fundamentais para sua formação. Inspirada por sua orientadora, passou a elaborar artigos científicos e apresentá-los em eventos acadêmicos, o que impulsionou sua aprovação no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UEM, onde concluiu o mestrado em 2021. Com a mesma determinação, ingressou no serviço público, e hoje atua na Prefeitura de Apucarana, como assistente social, atendendo famílias em situação de vulnerabilidade social e orientando sobre direitos e benefícios assistenciais.
Para Huama, o futuro da profissão de assistente social é promissor, e ela acredita que o profissional deve estar sempre preparado para os desafios das novas demandas. “A tendência é que seja visualizada a atuação do assistente social também em novos espaços e, para obter êxito, o profissional deverá estar preparado para lidar com as novas demandas do mercado de trabalho.” Em sua visão, entre as qualidades essenciais para o sucesso na profissão estão “visão crítica da realidade social, engajamento, criatividade, escuta qualificada e habilidade da fala moderadora e clara.”
A assistente social do Hospital Universitário Regional de Maringá (HUM), Yolanda Maria Grandizoli, de 43 anos, relata que escolheu a profissão motivada pela valorização e ampliação das oportunidades trazidas pela implementação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), em 2005.
Hoje, após 17 anos atuando na profissão em setores privados e públicos, Grandizoli observa que o mercado para assistentes sociais, especialmente no setor público, mudou muito nos últimos anos, com aumento de terceirizações e contratações autônomas. Na opinião dela, “apesar do crescimento pela contratação de assistentes sociais em instituições privadas e organizações não governamentais, ainda é nos serviços públicos a maior necessidade de contratação.”
Ao mesmo tempo, Grandizoli avalia que a saúde e a educação são as áreas mais carentes de assistentes sociais, destacando a importância da Lei 13.935/2019, que prevê a atuação de assistentes sociais em escolas, mas que ainda falta a efetiva implementação da legislação. “As escolas de educação básica são carentes de assistentes sociais para trabalhar com o enfrentamento às diversas violações de direito da criança e adolescente.”
Yolanda acredita que, para fortalecer a profissão, são necessárias mudanças na administração pública para ampliar vagas e garantir a inserção dos assistentes sociais nos serviços. Segundo ela, o trabalho exige habilidades como análise crítica, comunicação e trabalho em equipe, além de comprometimento ético. "É gratificante ser uma defensora dos direitos sociais e facilitar o acesso da população às políticas públicas", finaliza.