O 5G nasceu oficialmente em 2019 e foi vendido como uma revolução na conectividade móvel. Vários benefícios eram listados por operadoras, especialmente para convencer o cliente a atualizar o plano, e smartphones compatíveis com a nova rede trazem ela no nome até hoje.
Passados alguns anos da sua implementação ao redor do mundo, o panorama hoje é um pouco diferente. Melhorias existem e são inegáveis, mas a empolgação de velocidades absurdas no celular ou a automação de indústrias inteiras tem ficado um pouco para trás.
Mas será que é possível afirmar que o 5G é um fracasso? Uma análise das promessas e da realidade dessa tecnologia mostra que ela foi cercada por expectativas hoje frustradas — e talvez esse mesmo tenha sido o problema.
O início de um sonho
Em 2019, quando o 5G começou a ser disponibilizado globalmente, a expectativa sobre essa geração de conectividade móvel era a maior possível. Assim como a evolução anterior, o 4G, a tecnologia prometia maior velocidade de navegação e download, além de baixa latência (o tempo de resposta entre comandos e ações do sistema) e uma capacidade para fornecer sinal para múltiplos aparelhos sem perda na qualidade.
O consumidor poderia baixar filmes inteiros em questão de segundos, jogar pela nuvem ou assistir às séries favoritas pelo streaming, além de conectar todos os dispositivos da casa pelo 5G. A automação em fábricas ou residências seria otimizada a níveis bastante elevados. Parecia tudo promissor na teoria — e também nas propagandas de operadoras e fabricantes de eletrônicos.
Em um vídeo lançado pelo TecMundo naquele ano, falamos sobre os motivos do 5G ser tão revolucionário, listando também questões como a diferença entre as frequências que aproveitavam a estrutura do 4G e o 5G standalone, aquele construído “do zero” e que possibilitaria de fato toda as melhorias. Esse é o que tem uma faixa com núcleo de rede exclusivo, é o padrão atual mais avançado e considerado o 5G "puro".
O tempo passou e, após vários adiamentos no leilão de frequências, o 5G chegou ao Brasil e começou a ser expandido graças aos esforços da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Em julho de 2024, completamos dois anos do início da implantação do 5G standalone no Brasil na faixa de 3,5 GHz, anteriormente utilizada para o sinal da TV parabólica e desde outubro de 2022 em todas as capitais brasileiras.
As pedras no caminho
Se foram tantos os avanços, por que há tanta gente com a sensação de promessas frustradas? Em entrevista ao site Teletime, o gerente sênior de Service Providers Americas da Omdia, Ari Lopes, o 5G hoje na América Latina é uma "melhoria incremental", sem chegar na revolução prometida para o serviço.
De acordo com o executivo, as operadoras não oferecem serviços de fato novos para convencer o consumidor de que o salto foi tão grande — a preocupação tem sido a construção da rede e expansão do sinal, o que é igualmente importante, mas sem tantos resultados visíveis em termos de otimização.
Além disso, o marketing das provedoras de sinal na época é hoje considerado exagerado, já que a empolgação construída não se concretizou. Elas ainda vendiam o 5G de forma antecipada, sem avisar que os planos ainda não envolviam a variante standalone.
Outro motivo que gera a sensação de frustração é a adoção ainda lenta e gradual em termos de cobertura. Fora de capitais e cidades muito populosas, o 5G ainda pode ser inexistente, com pouca cobertura de operadoras ou bastante instável.
Nesse ponto, há também uma questão de alto custo na modernização da estrutura e construção de estações e antenas, o que atrasa todo o processo. Em regiões remotas, o público brasileiro já tem preferido até a internet via satélite, como a fornecida pela Starlink que garante acesso mesmo em locais sem a presença das operadoras tradicionais.
Há também uma questão técnica: o 5G "puro" depende de um espectro de banda bastante largo, mas que é limitado em espaço (inclusive por leis), o que não gera o resultado esperado. Ainda nesse tópico, algumas das revoluções em automação e cidades inteligentes não foram colocadas em prática por dependem de vários fatores externos, como orçamento público e infraestrutura já existente ou não.
Outro ponto importante envolve a geração anterior: o 4G segue o suficiente para quase todas as tarefas cotidianas de navegação, comunicação e até entretenimento. Até pela cobertura limitada, o sinal pode ficar instável e você “cair” para a quarta geração ao andar poucas quadras. Isso prejudica tarefas complexas, como streaming e jogos, mas pode fazer com que você nem sinta falta do 5G.
O 5G deu errado?
De acordo com um levantamento da Anatel de julho de 2024, o 5G standalone está atualmente em 529 municípios — o equivalente a 122,1 milhões de habitantes ou 60,17% da população brasileira. Em novembro, a frequência de 3,5 GHz foi liberada em todo o país, um ano antes do previsto após esforços em substituir o sinal das parabólicas.
Isso não significa a ativação do sinal, pois depende de antenas compatíveis, mas é uma avanço comemorado. A promessa da Anatel é de que até o fim de 2029 todos os municípios do Brasil sejam atendidos pela cobertura.
Além disso, dados da Ookla divulgados pela agência indicam ainda que a velocidade média de download do 5G no Brasil é de 450 Mbps. Isso coloca o país entre os primeiros da lista de maior velocidade de download nessa modalidade. Para aproveitar tudo isso, temos 195 smartphones de 22 fabricantes com suporte ao 5G homologados pela Anatel, com modelos em várias faixas de preço.
Ainda assim, publicidade exagerada e exemplos hoje ainda irreais naturalmente criam a sensação de que falta muito caminho pela frente. O 5G standalone ainda está começando de verdade em todo o Brasil e a perspectiva é de "virada" é só para próximos dois ou três anos — quando outro padrão começa a surgir, neste caso o 5G Advanced.
Se o consumidor não verá tão cedo essa mudança, redes 5G privadas estabelecidas em fábricas têm funcionado bem; empresas como Huawei e Volkswagen são casos de sucesso nessa implementação, tornando várias atividades mais práticas a partir de uma conexão sem fio e segura.
Ou seja, o 5G não deu exatamente errado: ele está entre nós, com adoção gradual e de fato apresentando algumas melhorias. Só que ele não chega a ser a revolução que foi pintada e parte das expectativas criadas continua hoje no campo das promessas.