Valentine's Day: Por que o dia dos namorados no Brasil é diferente
O Concílio Vaticano 2º e a Revisão dos Santos

No Brasil, o Dia de São Valentim não se popularizou, e a principal razão para isso é outro santo: Santo Antônio, considerado o mais popular do país e com fama de casamenteiro. A lenda de São Valentim, por outro lado, está envolta em controvérsias e misturas de várias histórias.
A Lenda de São Valentim
Durante o governo do imperador romano Marco Aurélio Cláudio (214-270), foi proibido que os soldados se casassem, pois acreditava-se que um guerreiro sem vínculos familiares seria mais destemido. Um bispo chamado Valentim desobedeceu ao decreto, continuando a realizar casamentos. Há também relatos de um Valentim que distribuía rosas e corações de pergaminho pelas ruas, além de um sacerdote que oficializou a união entre um jovem cristão e sua noiva pagã. Nos registros católicos, há onze santos chamados Valentim, com três deles associados a mensagens de amor, segundo Thiago Maerki, pesquisador da Universidade Federal de São Paulo.
A Supremacia de Santo Antônio e o Dia dos Namorados
No Brasil, Santo Antônio é conhecido por ajudar noivas que não possuíam dote a consegui-lo para poderem se casar, o que levou a véspera de seu dia, 12 de junho, a ser instituída como o Dia dos Namorados. Sua fama de santo casamenteiro também o tornou o santo padroeiro dos namorados. No fim dos anos 1940, o publicitário João Doria (1919-2000), pai do ex-governador de São Paulo, criou uma campanha para uma loja com essa ideia, e a data acabou se tornando um sucesso.
A Controvérsia da Igreja Católica
Devido à dificuldade de distinguir entre os vários Valentins e à mistura de fatos e lendas, a Igreja Católica retirou São Valentim do calendário litúrgico tradicional nos anos 1960, mantendo missas em sua honra apenas em comunidades com forte tradição. Em 2014, o papa Francisco reuniu 20 mil casais de 25 países diferentes na Praça São Pedro para celebrar a data, enfatizando a importância do "compromisso no casamento".
O Legado de São Valentim e Sua Celebração Atual
Em Roma, a ideia de celebrar São Valentim é forte, tanto que na ponte onde acredita-se que ele tenha sido martirizado, era costume que os namorados fechassem um cadeado no poste e jogassem as chaves nas águas do rio. "O excesso de peso dos cadeados no poste fez com que, em 2007, houvesse um colapso elétrico, que mais tarde forçou a tradição a se encerrar cinco anos mais tarde", conta Lira.
Muito provavelmente, a construção biográfica de Valentim — ou do conjunto de Valentins — foi recheada de ficção. E a partir do Concílio Vaticano 2º, houve um esforço da Igreja para eliminar a memória de santos com origem possivelmente lendária. A memória de São Valentim passou a ser facultativa.
Maerki comenta que é "muito difícil falar que São Valentim não existiu" simplesmente porque, enquanto memória, ele existe, sendo celebrado por muitos grupos na Igreja. Há pelo menos três lugares importantes na Itália associados a São Valentim: em Roma, a Basílica de Santa Maria em Cosmedin guarda um crânio atribuído a ele; a Basílica de São Valentim em Terni, onde ele foi bispo; e a Igreja de São Jorge em Monselice, com restos mortais atribuídos a outro Valentim. O designer brasileiro Cícero Moraes recriou em 3D ambos os Valentins a partir de imagens de seus crânios.