Pacientes com câncer tendem a enfrentar quadros de desnutrição
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Durante o desenvolvimento de um tumor ou ao receber tratamentos como a quimioterapia, pacientes com câncer tendem a enfrentar problemas de desnutrição.
Quadros mais avançados da doença, inclusive, podem impactar diretamente no risco do aparecimento de problemas alimentares.
Uma pesquisa mostrou que um em cada três pacientes de câncer sofre com impactos da desnutrição. O levantamento do Instituto Ipsos ouviu 700 pacientes de sete países diferentes (Alemanha, Espanha, França, Holanda, Itália, Polônia e Reino Unido) que têm ou tiveram a doença entre 2019 e 2023.
O estudo com participantes de painel e questionário online mostrou que 64% dos pacientes ouvidos relataram perda de apetite, boca seca, alterações no paladar e náuseas -a maior parte eram pacientes de câncer gastrointestinal e ginecológico.
Podendo causar perda de massa muscular antes mesmo do diagnóstico, o câncer de pâncreas, por exemplo, é um dos tipos suscetíveis a provocar desnutrição antes mesmo do tratamento. "Pacientes com este tipo de doença tendem a emagrecer e perder massa muscular de forma muito rápida até mesmo em fases mais precoces da doença", explica Fernanda Capareli, médica oncologista do Hospital Sírio-Libanês.
Outros tumores que acometem o trato gastrointestinal também são potencialmente prejudiciais para a conservação de peso do paciente, mesmo antes do tratamento, como os cânceres de esôfago, estômago, cabeça e pescoço.
Tumores metastáticos também podem provocar desnutrição devido à intolerância alimentar. "Nesses casos o paciente costuma ter muita cólica, distensão abdominal, muito desconforto abdominal à alimentação, então tudo impacta na perda de peso relacionado à doença", diz Capareli.
Já pacientes que estão passando por tratamento oncológico podem enfrentar o problema em decorrência de efeitos colaterais de medicamentos -que podem causar náusea, enjoos e até vômitos- e cirurgias. Pacientes diagnosticados em fases mais precoces, no entanto, não costumam passar por tratamentos com tantos efeitos colaterais, segundo a especialista.
Quadros como desnutrição, de acordo com ela, costumam ser mais comuns em fases mais avançadas da doença. "Com a melhora dos cuidados e do suporte aos sintomas de efeitos colaterais, a gente não vê hoje em dia os pacientes sofrerem tanto por toxicidade e tratamento. Existem, no entanto, protocolos de maior toxidade, náusea e até diarréia", explica Capareli.
Para Capareli, esse tipo de efeito colateral é comum do tratamento. O princípio ativo da quimioterapia muitas vezes, pode causar alteração no paladar. "Não são todos os alimentos que são tolerados nessa fase de tratamento. Tanto que com isso, acaba vindo as náuseas, os intestinos, muitas vezes, os pacientes têm até mais chance de obstrução dos intestinos presos", diz.
Segundo o mesmo levantamento, 83% dos pacientes ouvidos consideram que a nutrição tem um papel importante durante o tratamento e a recuperação.
Após a descoberta da doença, 73% dos entrevistados relataram dificuldade para dormir e sentimento de depressão. Já 57% dos ouvidos disseram evitar compromissos sociais e abandonaram hobbies, enquanto 50% mencionaram redução na atividade física.
Para a especialista, o suporte multidisciplinar com nutricionistas e psicólogos, por exemplo, é fundamental e faz diferença no acompanhamento do paciente oncológico.
Além disso, esses pacientes precisam de uma rotina de atividade física para reduzir a perca de massa muscular. "Quanto menos atividade física, mais perda da massa muscular, mais fadiga. Então, isso, para sair dessa rotina, muitas vezes é difícil", completa.