Cincos anos após primeira morte de Covid-19 no Brasil: acervo revela negacionismo
Registros evidenciam práticas contrárias à ciência e à proteção da vida.

Neste dia 12 de março, marca-se o quinto aniversário da primeira morte por covid-19 no Brasil. Nesta data simbólica, ocorre o lançamento do Acervo da Pandemia, um repositório digital que documenta o negacionismo e as políticas de omissão que marcaram a condução da crise sanitária no país. Organizado pelo SoU_Ciência, o acervo reúne cerca de 250 registros documentais, incluindo textos, vídeos e áudios, que revelam ações e discursos contrários à ciência durante o governo de Jair Bolsonaro e seus aliados, entre 2020 e 2022.
O acervo, estruturado em 17 temas, como uso de máscaras, imunização de rebanho, tratamento precoce e lockdown, foi criado com base em critérios científicos. A instituição destaca que os materiais evidenciam como um sistema articulado de poder privilegiou interesses políticos e econômicos em detrimento da vida da população, promovendo medicamentos ineficazes, a negação de vacinas e o boicote a medidas de proteção. Segundo a curadoria, alguns dos documentos incluem discursos autoincriminatórios e práticas que resultaram em mortes evitáveis.
“Esses materiais revelam condutas que ampliaram o número de mortes evitáveis no Brasil”, afirmou a instituição. Inspirada no conceito de necropolítica, do historiador Achille Mbembe, a iniciativa enfatiza a relação entre decisões de poder e a determinação de quem vive e quem morre em uma sociedade.
Covid-19 no Brasil: da primeira morte às 700 mil vítimas
Em 26 de fevereiro de 2020, o Brasil registrava oficialmente seu primeiro caso de covid-19: um homem de 61 anos vindo da Itália. Pouco mais de duas semanas depois, em 12 de março, a primeira morte foi confirmada em São Paulo, de uma mulher de 57 anos. A condução da pandemia se tornou um marco histórico, com quase 700 mil mortes registradas entre 2020 e 2022.
Pesquisadores apontam que a gestão federal foi marcada por desinformação, atrasos em decretos de restrição e ações ineficientes, que agravaram a interiorização dos casos. Para Thalyta Martins e Raphael Guimarães, autores de um estudo de 2022, a pandemia expôs uma crise do Estado federativo, evidenciada por entraves entre governos estaduais e federal, além de contradições e falta de transparência.
Caso Manaus: o colapso no Amazonas
Em janeiro de 2021, o Amazonas viveu uma crise sem precedentes, com falta de oxigênio hospitalar em Manaus. Desesperados, familiares de pacientes buscavam cilindros de oxigênio por conta própria para evitar mortes por asfixia. Para a professora Deyse Ventura, da USP, o episódio não foi fruto de negligência ou incompetência, mas de ações criminosas.
“Manaus deve ser lembrado como um exemplo de crimes que tiveram cúmplices”, afirmou Ventura ao programa Caminhos da Reportagem, da TV Brasil.
A chegada da vacina: um marco de esperança
No mesmo ano, o Brasil recebeu a tão esperada vacina contra a covid-19. A enfermeira Mônica Calazans foi a primeira brasileira a ser imunizada com a CoronaVac, logo após a aprovação emergencial pela Anvisa. O diretor-geral da Fiocruz, Maurício Zuma, destacou o papel crucial da ciência global na rápida produção do imunizante, que trouxe esperança em um dos momentos mais críticos da pandemia.
Com o lançamento do Acervo da Pandemia, o Brasil revê seu passado recente e destaca a importância de valorizar a ciência e a defesa da vida frente à desinformação e à negação de direitos básicos.