Vacina anual contra HIV? Entenda o potencial do Lenacapavir
Estudo aponta eficácia e segurança, mas acessibilidade é preocupação.

Um estudo realizado pela farmacêutica Gilead Sciences, publicado na revista The Lancet na última quarta-feira (12), avaliou a segurança e a duração do lenacapavir, um medicamento de ação prolongada desenvolvido tanto para o tratamento quanto para a prevenção do HIV, com apenas uma aplicação anual.
O lenacapavir é uma forma inovadora de profilaxia pré-exposição (PrEP). No Brasil, atualmente, a única opção disponível é oral, com comprimidos de uso diário. O professor de infectologia Paulo Abrão, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e presidente da Sociedade Paulista de Infectologia, explica que o lenacapavir pertence a uma nova classe de antirretrovirais, os inibidores de capsídeo.
Como o medicamento funciona
O capsídeo, descrito como uma "capa protetora" que envolve o material genético do HIV, é essencial para a replicação viral. O lenacapavir impede tanto a formação quanto a dissolução dessa capa, bloqueando a multiplicação do vírus no organismo. Diferentemente de outros medicamentos, ele apresenta atuação eficaz mesmo em pequenas doses e protege contra o HIV por longos períodos, graças à liberação gradual da substância na corrente sanguínea.
Essa nova tecnologia permite ao medicamento manter níveis estáveis no organismo durante meses. Administrado por via intramuscular ou subcutânea, o fármaco interfere em diferentes fases do ciclo de vida do HIV, impedindo a montagem do vírus nas células e o transporte de material genético para novas infecções.
Avanços e desafios
O lenacapavir já recebeu aprovação na Europa e nos Estados Unidos para o tratamento de pessoas com HIV multirresistente, que não respondem a outros antirretrovirais. Além disso, estudos indicam seu potencial como uma nova opção de PrEP, funcionando quase como uma "vacina anual". Contudo, o preço elevado é um obstáculo.
De acordo com levantamento da Oxford Academy, duas doses do medicamento custavam cerca de US$ 44 mil em novembro de 2024, suficiente para um ano de tratamento. Segundo Abrão, a implementação na rede pública brasileira é inviável devido ao custo.
Soluções e negociações
A Gilead Sciences busca facilitar a produção de genéricos para regiões de baixa renda, como a África Subsaariana e partes da Ásia. Entretanto, equilibrar lucros e saúde pública continua sendo um desafio. A OMS (Organização Mundial da Saúde) já manifestou a necessidade de negociações para tornar o medicamento acessível, principalmente para populações mais vulneráveis.
Com informações de FOLHAPRESS