Mais de 80 mil pessoas desapareceram no Brasil em 2023, deixando famílias em uma dolorosa incerteza sobre o paradeiro de entes queridos. Para combater essa angústia, uma iniciativa inédita no país ganhou visibilidade a partir de outubro: a estampa de rostos de pessoas desaparecidas em embalagens de leite da marca Piracanjuba.

Inspirada em ações semelhantes realizadas nos Estados Unidos nos anos 1980, a campanha Desaparecidos é fruto de uma parceria entre a empresa e o Movimento Mães da Sé, organização fundada por Ivanise Espiridião, que há quase 30 anos busca sua filha desaparecida.

Rostos nas embalagens, esperança nos lares

O projeto utiliza ferramentas de inteligência artificial para atualizar fotos antigas de pessoas desaparecidas, recriando suas possíveis aparências atuais por meio da técnica de projeção de idade, com a colaboração do perito Hidreley Diao. A campanha começou com 19 rostos nas embalagens e, nos próximos lotes, deve priorizar imagens de crianças desaparecidas há mais de cinco anos.

A iniciativa pretende não só aumentar as chances de localização, mas também gerar empatia e engajamento da população com o tema. "Os produtos Piracanjuba estão presentes no cotidiano das famílias brasileiras. Usar esse espaço para gerar impacto social é algo que nos move", afirma Lisiane Campos, diretora de marketing do grupo.

Tecnologia e mobilização como aliadas

Com o apoio da inteligência artificial, a campanha busca atingir um público amplo, aproveitando o alcance dos produtos Piracanjuba nas prateleiras do país. As imagens recriadas mostram as pessoas desaparecidas em situações cotidianas, como se estivessem vivas e integradas à sociedade, ajudando a fixar seus rostos na memória coletiva.

Legislação e resposta rápida

O Brasil conta com uma legislação específica para desaparecimento de crianças e adolescentes. A Lei nº 11.259, sancionada em 2005, determina que a investigação deve começar imediatamente após a denúncia, eliminando o mito de que é necessário esperar 24 horas. Além disso, a norma obriga a notificação de autoridades em portos, aeroportos e outros meios de transporte.

Movimento Mães da Sé: uma luta que inspira

Fundado em 1996, o Movimento Mães da Sé oferece apoio a famílias que enfrentam a dor do desaparecimento. Ivanise Espiridião, idealizadora do projeto, teve a filha Fabiana desaparecida em 1995. Mesmo sem respostas após quase 30 anos, sua esperança permanece firme e serve de força para outras famílias que vivem o mesmo drama.

“Desaparecidos é uma ação perene”, reforça Lisiane Campos. “Estamos muito envolvidos com ela e já planejamos sua continuidade para o próximo ano.”
Com tecnologia, empatia e persistência, essa campanha reacende a esperança onde só havia silêncio — e devolve, ainda que em retrato, a presença de quem um dia partiu sem aviso.
Muitos casos de desaparecimento já foram selecionados, e crianças achadas após 10 anos devido a campanha na caixinha de leite. Essa organização é necessária e importante, e está ajudando a salvar muitas famílias da trágica dor que as aflinge todos os dias.

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